História do Turismo

 

INTRODUÇÃO

Stonehenge - Sul da Inglaterra - anthonyjhicks.com

As viagens sempre estiveram presentes na vida dos homens. Desde os mais antigos registros até as mais atuais formas de documentar a história, temos expostos vários motivos que obrigavam o homem a se deslocar. Na vertente religiosa e mítica, por exemplo, temos referências que comprovam a existência de viagens. O livro Gênese, do antigo testamento da Bíblia Sagrada, apresenta como forma de punição a Adão e Eva, a expulsão do paraíso. Logo no segundo livro, retrata a saída ou o êxodo dos hebreus do Egito, conduzido pelo “guia” Moisés, para a terra prometida. Fazendo uma análise antropológica das viagens, aproximadamente 13 mil anos atrás no período paleolítico, os seres humanos eram caracterizados pela subsistência.

Sua sobrevivência se dava através da caça, pesca, coleta de frutas, raízes e pela utilização de objetos confeccionados com pedra lascada, ossos e dentes de animais. Devido a estas características, os homens eram nômades e viviam se deslocando de um lugar para outro em busca de sobrevivência e proteção. Com o aperfeiçoamento dos instrumentos e das tecnologias, surgiram os arcos, flechas, utensílios de argila e ossos, além do controle do uso do fogo, permitindo assim modificações do ambiente terrestre que acabaram por refletir nos hábitos dos homens.

Pintura rupestre na Caverna de Lascaux - França - www.culture.gouv.fr  Pintura rupestre na Caverna de Lascaux  - França - www.culture.gouv.fr

Esta nova sociedade passa a ser mais sedentária, estabelecendo seu território, cultivando a terra, criando animais e desenvolvendo a produção de alimentos. Este período de transição, chamado de Mesolítico, representou as bases para a formação da sociedade neolítica, que por sua vez passou a dominar ainda mais a natureza, como a agricultura e a domesticação dos animais. Estes grupos aperfeiçoaram também as técnicas de construção de canoas, jangadas e barcos influenciando nas migrações e conquistas de novos espaços.

 

Um ponto interessante que representou uma evolução desta sociedade, foi a cultura megalítica (palavra grega que significa grande pedra). Um exemplo desta manifestação está em Stonehenge, no sul da Inglaterra, entre Londres e Bristol. Num artigo publicado pela revista Os Caminhos da Terra em junho de 1995, ela afirma que existe um consenso que esta obra seja dos homens do período neolítico, erguida a mais de 5 mil anos. Por volta de 6000 a.c., o homem passa a utilizar os metais na confecção de armas e utensílios, o que caracterizou o período como Idade dos Metais. Ocorria ao mesmo tempo a revolução urbana, onde transformava as aldeias agrícolas auto-suficientes em aglomerados urbanos e à medida que iam crescendo esta organização, maior era a necessidade de intercâmbio ou troca de utensílios e alimentos com outros aglomerados para satisfazer as necessidades da época. Nasciam assim as primeiras necessidades de viagens comerciais da história.


 

 

MODERNIZAÇÃO NOS TRANSPORTES

Trecho Liverpool - Manchester primeira ferrovia totalmente com trem a vapor a transportar um significante número de passageiros - www.axiomvetlab.co.uk

Com a invenção das estradas de ferro iniciou-se uma nova era na história das viagens e do turismo. A princípio, os vagões das locomotivas eram pequenos e com o teto descoberto, o que deixava os passageiros desprotegidos, recebendo fagulhas originadas da queima do carvão. A partir do ano de 1830 a burguesia industrial se fortaleceu e abriu caminho para a consolidação da estrada de ferro. Este transporte, que até então era realizado por carruagens, conduzia uma elevada quantidade de passageiros, com rapidez, segurança e comodidade. Houve um considerável desenvolvimento econômico na tecnologia de transportes e de comunicações. Com a implantação das ferrovias, tornou-se viável fazer excursões à noite e nos fins de semana. Com o telégrafo e o telefone ficou possível coordenar viagens do escritório e de casa, assegurando serviços e passagens confiáveis. A grande façanha dessa nova modalidade de transporte se deu a partir da possibilidade das classes menos favorecidas poderem viajar, e por isto criaram diferentes categorias de vagões nos trens.

THOMAS COOK



Thomas Cook, primeiro agente de viagens do mundo - www.derbyshireuk.net

Apesar da expansão da estrada de ferro na Europa e do crescimento das empresas ferroviárias havia um problema significativo que colocava em risco o desenvolvimento e a qualidade da atividade turística: Os horários e as tarifas eram muito complexas e as acomodações econômicas eram muito limitadas. Aproveitando esta oportunidade de mercado, Thomas Cook, o primeiro agente de viagens do mundo, resolveu fretar um trem com tarifas reduzidas, o que aumentaria a demanda pela viagem.

A partir dai, Cook criou as viagens em grupos, iniciando a primeira e maior agência de viagens de todos os tempos. A grande arrancada de Cook se deu em 1841, quando organizou o primeiro tour de viagem em larga escala, conduzindo 500 pessoas para Leicester. Thomas Cook também foi o primeiro a usar campanhas publicitárias e de marketing para captar clientes. A empresa de Cook, tornou-se uma das primeiras empresas internacionais a ganhar o reconhecimento da marca.Cook tornou acessível a viagem e o turismo a pessoas da classe trabalhadora e da classe média, padronizando-os e produzindo-os em massa e o turismo acabou assemelhando à produção fordista (Henry Ford – automóveis). Pessoas com um mesmo comportamento, visitando os mesmos lugares e consumindo as mesmas coisas.

Os negócios foram se ampliando. Iniciaram-se as reservas em hotéis e restaurantes e, em 1845, foi organizada uma excursão para o litoral de Liverpool que em uma semana venderam 350 passagens. A partir daí aumentaram os números de viagens, a distância entre os locais, assim como a venda em grande quantidade. Algumas de suas idéias foram copiadas e ampliou-se o número de ofertas por outros operadores. O turismo de massa organizado por Cook começou a perder importância e passou a ser alvo de críticas por parte das populações e por autoridades locais o que acabou originando as viagens por pacotes. Diante da possibilidade de crescimento dos negócios turísticos, Cook criou um jornal The excursionist and Exhibition Advertiser voltado para orientação em viagens, onde justificava seus produtos, visando atingir um público maior.

Quando Cook começou a organizar suas primeiras viagens para Paris, partindo da Inglaterra, encontrou resistência das empresas ferroviárias que negaram tarifas especiais. Com isto fundou a mais longa rota para a França, passando pela Holanda via Antuérpia, na Bélgica. Havia ainda facilidades para as pessoas que não falavam francês, principalmente nos contatos com hotéis. Com o passar do tempo surgiu-se também o interesse por viagens independentes de agenciamento, o que facilitou a negociação entre as empresas ferroviárias e os passageiros.

Algumas criticas começaram a surgir em decorrência do grande número de turistas que visitavam cidades históricas da Itália causando impactos turísticos nos locais visitados. Com a experiência adquirida com os bilhetes de trem, Cook criou cupons de hotel objetivando recuperar o mercado. Foram firmados vários acordos com hotéis nos itinerários dos trens. O hospede tinha direito à acomodação com pensão completa. A idéia era criar um grupo de hotéis em que o cliente teria condições de escolher qual melhor lhe agrada e com tarifas diferenciadas. A grande dificuldade encontrada era negociar com os hotéis de diferentes países, devido à grande variedade de moedas.

Dessa forma, o filho de Cook, seu sócio decidiu criar o circular notes que seria precedente dos atuais traveller´s checks onde os clientes adquiriam os cupons (moeda circulante) podendo ser trocadas nos hotéis participantes. Suas idéias eram sempre surpreendentes e mostravam a rapidez em criar novas modalidades para facilitar as viagens. Assim, Cook e sua família fizeram fortuna com o turismo, tornando as viagens mais acessíveis e motivando cada vez mais as pessoas a viajarem. As viagens passaram a ser consideradas a comercialização do sonho, principalmente com a melhoria dos meios de hospedagens, transporte e alimentação.


 

TURISMO DE CURA

Balneários e Montanhas

Rua de Bah - Inglaterra - www.geocities.com/andanca

Na Grécia antiga, a natação era uma necessidade higiênica e a elite romana era fanática com o mar. Com a queda do império romano, em 476 d.c., o lazer proporcionado pelo mar e a praia é substituído pelo medo, pavor e proibição. Já na idade média, o paraíso era o monastério e o banho não era considerada atitude de um bom cristão. Acreditava-se que a pressão e o calor das águas abriam os poros, penetrando na pele e o corpo não poderia ser exposto às influências nocivas do ambiente externo. O sentido da limpeza era manifestado nas roupas e não no corpo. A aversão à água era tão grande que acabava ocorrendo uma “praiafobia”. O oceano era impróprio para a vida terrestre onde residia o poder do inferno. Mesmo na bíblia, o novo testamento reforçava essa visão do mar como uma arma de Deus; pois o apocalipse poderia ser a elevação das águas.

O impacto do Grand Tour na história representou uma mudança revolucionária, principalmente por tratar de interesses na saúde. Eram comuns viagens para lugares que oferecessem banhos considerados medicinais. Algumas cidades européias bastante conhecidas pelas águas termais foram Bath (Inglaterra) e Spa (Bélgica). A invenção da estação termal é de origem britânica, como também o banho de mar como terapia e penitência. Assim surgiram várias terapias medicinais. Existiam regiões onde os médicos permaneciam nas estações de banho acompanhando os visitantes e por conhecer a composição das águas, prescreviam a quantidade de banhos que cada pessoa deveria tomar. A possibilidade de viajar aliando a idéia de terapia de cura com os banhos ficou restrita a aristocracia. Já a burguesia se preparava para a busca do lucro na atividade.

.:. Viagens de lazer

É importante ressaltar que as pessoas comuns já se reuniam na praia por muitos séculos e as famílias da classe operária tinham o mar como recreação e não como atividade terapêutica. Assim dava-se início a viagens em busca de lazer no litoral, o que prenunciava o desenvolvimento da atividade turística. Surgiram os hotéis para acolher esta população e os médicos convenciam as pessoas a consumir esses novos produtos relacionados a natureza. Não eram as pessoas que escolhiam e decidiam o que consumir. Eram os empreendedores, os criadores dos produtos que iriam conduzir o desejo dos viajantes. O que interessava ao viajante era a possibilidade de consumo do lugar. Consumia-se a praia, o ar da montanha (ar puro utilizado para tratar a tuberculose), como local de cura e este era o mecanismo utilizado pelos empresários do turismo para gerar lucros.

.:. Turismo de Cura no Brasil

No Brasil a região de Campos do Jordão (SP), Caldas Novas (GO) constituem exemplos de turismo de cura. Na cidade paulista as pessoas seguiam em busca de ar puro de montanha e em Caldas Novas os banhos de água quente com o intuito de cura. Atualmente, estas localidades recebem visitantes interessados em turismo e o interesse no tratamento de saúde foi perdendo importância. Hoje sabe-se que aquelas águas tem um efeito apenas terapêutico e não de cura. (Barbosa 2002:46)